Tecnologia, Política e Filosofia em Álvaro Vieira Pinto

Jairo Dias Carvalho

Resumo


O pensamento tecnológico de Álvaro Vieira Pinto é a tradução em termos de filosofia da tecnologia do que se convencionou chamar de desenvolvimentismo enquanto estratégia de construção da nação brasileira. Para Álvaro a Filosofia deve formular um conceito de tecnologia que integre as várias concepções de diferentes áreas do conhecimento que pensam e fazem tecnologia. E o conceito de tecnologia deve estar vinculado a uma teoria do trabalho, o que torna a técnica consubstancial à espécie humana. Álvaro faz uma crítica acerca das trocas tecnológicas assimétricas entre as nações articulando uma original relação entre conceitos de tecnologia e políticas tecnológicas. O texto a seguir apresenta o começo de determinação dessa relação


Palavras-chave


Álvaro Vieira Pinto; Filosofia da Tecnologia; Desenvolvimentismo; Política Tecnológica; Brasil.

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Referências


“marcha da evolução do sistema nervoso e realizando-se na forma de trabalho socialmente organizado a qualidade de feitura de objetos” (VIEIRA PINTO, Idem, p.62)

“A verdadeira finalidade da produção humana consiste na produção das relações sociais, a construção das formas de convivência. Realmente só o homem interessa aos homens, pois cada ser desta espécie só pode esperar benefícios de outros congêneres, e também somente a este pode temer. Mas, a criação das formas de convivência significa a produção organizada, planejada e conjuntamente obtida no ato do trabalho” (VIEIRA PINTO Ibidem, p.86).

“A máquina possui uma base social... É sempre em função da fase da cultura vigente numa sociedade, de suas exigências, que nela se originam as máquinas possíveis em tal situação, tanto no significado criador, inventivo, quanto na condição passiva, meramente importadora de instrumentos ou produtos acabados” (VIEIRA PINTO, 2005, p.100).

“os filósofos da técnica não atentam para o papel das relações sociais de produção” (VIEIRA PINTO, 2005, p.158).

“A nação arvorada em cabeça de uma formação imperial tem necessidade de melhorar constantemente sua tecnologia de exploração da natureza e do trabalho dos povos vencidos, sob a pena de declinar e sucumbir” (VIEIRA PINTO Ibidem, p.259).

“Aí se acumulam as produções da ciência, para aí emigram os sábios do mundo inteiro e aí se acham os recursos de força de trabalho necessários para a produção mais qualificada e volumosa, possível em cada fase histórica” (VIEIRA PINTO, 2005, p. 259).

“Tal é o motivo pelo qual a sociedade grega antiga desinteressou-se das invenções de aparelhos hidráulicos ou movidos a vapor” (VIEIRA PINTO, Idem, p.261).

Explica-se assim, a torrencial invasão de agentes estrangeiros comissionados para inspecionar o estado do território ocupado e transmitir ao centro diretor as informações necessárias para escolher o modo de ministrar a tecnologia transplantada. Daí recorrer a potência hegemônica a duas noções falsas e confundidoras, uma a de que a tecnologia consubstancia um bem a ser adquirido pelo país atrasado, pagando caro por ele, se quiser progredir; outra, a de que a tecnologia é produto exclusivo da região dominante, e só aí pode ter origem. (VIEIRA PINTO, 2005, Ibidem p. 266).

mana pode existir sem técnicas correspondentes ao estado de suas forças produtivas” (VIEIRA PINTO, 2005, p.267).

“Quando se diz que algum povo carece de tecnologia está sendo dito apenas que não possui ainda a tecnologia avançada, pela qual se define, no momento do progresso da humanidade em conjunto, a fase mais adiantada do processo universal de desenvolvimento da utilização do conhecimento do emprego das energias físicas”. (VIEIRA PINTO, Idem, p.267).

“A técnica transmite-se a toda a humanidade por exigência interna”. (VIEIRA PINTO, Ibidem).

“O surto tecnológico das regiões ricas não foi motivado por nenhuma lei da história, mas resume o dado circunstancial da desigualdade do poder econômico que sufoca o gênio criador dos indivíduos de outros grupos étnicos” (VIEIRA PINTO, Ibidem, p268).

“É preciso reforçar a barreira cultural que se fosse vencida daria aos povos o reconhecimento para si de sua capacidade criadora em qualquer domínio técnico” (VIEIRA PINTO, Ibid., p.268).

“o consumo de um bem de procedência estrangeira leva o consumidor a desejar incorporar-se ao mundo onde se exerce naturalmente o tipo de ação humana realizadora dos produtos dos quais aspira apropriar-se” (VIEIRA PINTO, 2005, p.270.).

“As pessoas querem incorporar-se ao tipo de existência revelada pelas técnicas importadas e de que tomam conhecimento e a ter um padrão de vida igual aos de seus homólogos da região metropolitana quando absorvem os produtos técnicos importados” (VIEIRA PINTO Ibidem, p. 271).

“O habitante da região atrasada não pode adquirir um bem representativo de um grau superior de progresso sem que se aproprie do universo cultural de que aquele bem técnico representa uma parcela” (Ibid.).

“O colonizador acredita que a tecnologia rigorosamente medida, fiscalizada e exportada para as regiões marginais sob os rótulos de auxílio e assistência técnica ajudará os povos dessas regiões a elevarem o nível econômico de vida e, portanto, a consumirem os produtos da tecnologia adiantada, naturalmente mais caros e anteriormente inacessíveis a eles” (VIEIRA PINTO, 2005, p.272).

“Nunca o explorador estrangeiro terá interesse em fabricar na região anexa o que corresponde ao produto mais elevado de sua invenção. Se há privilégio de que jamais abrirá mão é o de inventar, de gerar a técnica. Só exporta o já sabido, o já usado, aquilo que não pode mais dar lucro senão no estado de sobrevida”. (VIEIRA PINTO, 2005, p. 273).

“É, portanto, o Estado que deve formular e decidir sobre os programas educacionais e manter as universidades e institutos científicos das nações em desenvolvimento. Abrir mão do poder de decisão em tão fundamental campo de progresso nacional é entregar a soberania nacional” (VIEIRA PINTO, 2005, p. 277).

Deparamo-nos com o triste e constrangedor espetáculo do alegre e serviçal recebimento dos especialistas alienígenas pelos grupos que com o pouco ou o muito que aprenderam se tornaram dóceis instrumentos das intenções do centro irradiador externo, especialmente porque desse contato os futuros técnicos nativos em gestação saem pessoalmente beneficiados e confundem sua relativa melhora cultural e financeira com a do país (VIEIRA PINTO, 2005, p.283




DOI: https://doi.org/10.26694/pensando.v8i15.5492

DOI (PDF): https://doi.org/10.26694/pensando.v8i15.5492.g3689

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