Morfologia comparativa do trato digestório de tilápias do Nilo (Oreochromis niloticus) cultivadas em sistema semi-intensivo vs da pesca artesanal

Jurandyr Reis Neto, Geuan Pereira Reis, Vivian Costa Vasconcelos, Iru Menezes Guimarães, Elton Lima Santos

Resumo


Objetivou-se, nesse estudo, avaliar e comparar a morfologia do trato digestório de tilápias do Nilo (Oreochromis niloticus), oriundas de cultivo semi-intensivo e da pesca artesanal no rio São Francisco. Utilizou-se seis exemplares (quatro de cultivo e dois da pesca artesanal). Injetou-se 4ml de formol 4% na cavidade peritoneal dos espécimes, posteriormente, mantidos imersos em solução formol por 48h. Realizou-se biometrias de todos exemplares, mensurando-se o comprimento total (CT), comprimento padrão (CP) e o peso. Utilizou-se fita métrica (cm), paquímetro e balança de precisão. As brânquias foram removidas utilizando-se tesoura cirúrgica. Fez-se uma incisão latero-ventral para visualizar a disposição dos órgãos na cavidade peritoneal. Retirou-se os órgãos e separou-se cuidadosamente o trato digestório para analisar sua morfologia e fazer registros fotográficos. Obteve-se o coeficiente intestinal (CI) com base no comprimento do intestino relacionado ao comprimento corpóreo (Ci/Cp). As tilápias de cultivo exibiram CT entre 16-22,5cm e CP 12-19,3cm e peso entre 70-210g. As tilápias da pesca extrativa apresentaram CT entre 19-20,2cm, CP entre 16,6-17,6cm e peso entre 177,7-178,3g. A boca, em todos exemplares, é provida de dentículos. O arco branquial exibe longos filamentos e rastros distribuídos uniformemente, ratificando seu hábito onívoro. O tubo digestivo compreende as regiões anterior, média e posterior. O estômago é sacular e armazena parcialmente o alimento. Todos exemplares exibiram alto CI (3,02-9,32cm), que compensa a falta ou redução de cecos pilóricos, mas os espécimes de cultivo expressaram maior CI e área de absorção, indicando possível influência da dieta na conformação do trato. A robustez do trato nas espécies da pesca pode estar relacionada a seleção natural e/ou períodos de abundância e escassez alimentar. O. niloticus, por ser onívora, têm facilidade em adaptar a morfologia do trato digestivo com base na dieta. Este estudo fornece fortes indícios da influência do alimento inerte e natural na variação morfológica gastrointestinal desta espécie.


Palavras-chave


Anatomia; Morfologia; Biodiversidade

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DOI: https://doi.org/10.26694/jibi.v3i2.7307

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