A mimese filosófica em Platão: Da tragédia ao teatro das ideias na República

Francisco Oliveira Freire

Resumo


Este artigo pretende delinear a relação entre a mimese e a filosofia platônica a partir da República. A interpretação prevalecente caracteriza a mimese como imitação, denotando algo enganoso, ilusório ou falsificado. Platão alijaria a mimese da cidade ideal, pois ela seria capaz de corromper até os melhores cidadãos. Intérpretes influentes pressupõem a identidade entre o conceito platônico de mimese e a noção moderna e contemporânea de arte. Defende-se nesse artigo que tais interpretações são parciais e desfiguram o conceito platônico de mimese. O teatro teve importância fundamental na gênese e no desenvolvimento da filosofia platônica. A mimese cênica inspirou a concepção platônica do mundo empírico como representação do mundo das ideias. Entre os acadêmicos o termo mimese assumiu um sentido técnico, refere-se à relação entre o fundamento suprassensível – as ideias – e o mundo empírico. A representação mimética é mediação indispensável do modelo inteligível. Pela representação mimética, inscreve-se a ausência do modelo na presença sem abolir a distância ontológica. A crítica platônica visa à conversão da mimese de disseminadora de falsidades mitológicas em poderoso instrumento da verdade e do bem. O filósofo é, por um lado, o usuário da mimese, que determina os critérios de qualidade para a utilidade paidêutica. Por outro lado, o filósofo é o mais excelente mimeta, pois conhece o verdadeiro modelo e o representa em palavras. A República – assim como todo o corpus platonicum – é uma representação mimética. A densidade ontológica, epistemológica, ética, política, religiosa e paidêutica que contextualiza a mimese platônica a distingue completamente do que hoje costumamos classificar como poesia ou arte.


Palavras-chave


Platão, Mimese, Poesia, Representação, Ideia, Arte

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DOI: https://doi.org/10.26694/pensando.v13i29.13252

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