Duas mulheres educadas no oitocentos: registros em egodocumentos femininos

Maria Celi Chaves Vasconcelos, Ana Cristina B. Lopez M. Francisco

Resumo


A partir da análise dos arquivos pessoais e egodocumentos elaborados por duas mulheres que viveram no Brasil, no século XIX, o objetivo central do presente trabalho é evidenciar o que essas fontes podem nos dizer sobre a vida dessas mesmas mulheres, em um contexto patriarcal, escravocrata e que reservava a elas um papel social limitado, além de submetido a constante vigilância. Os procedimentos metodológicos tratam de uma pesquisa qualitativa, utilizando como fontes de investigação diferentes categorias documentais, sobretudo, o inventário de cartas e diários que guardam marcas da história dessas mulheres e o posterior exame detalhado desses registros. Conclui-se que, apesar de egodocumentos, sob a forma, especialmente, de diários, serem raros em nosso país, contribuindo para o silenciamento feminino, ainda é possível localizar alguns como os objetos de nossa investigação, que permitem perpetuar a memória de mulheres há muito esquecidas, demonstrando o seu cotidiano envolto a preocupações relativas às funções femininas de gestoras da casa, esposas e mães. Como demonstram os registros estudados, a educação recebida visava, especialmente, a preparação para o casamento, para gerir a casa e cuidar dos filhos. Igualmente, a proximidade com as elites imperiais exigia o domínio dos padrões comportamentais franceses, particularmente, para quem frequentava a Corte brasileira, situada na cidade do Rio de Janeiro, e para quem convivia com os membros da realeza. 


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DOI: https://doi.org/10.26694/caedu.v2i2.10997

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