CRONOLOGIAS DA INFÂNCIA E DISPUTAS DE REPRESENTAÇÕES EM TEXTOS ECLESIÁSTICOS E JURÍDICOS NO BRASIL IMPÉRIO

Juarez José Tuchinski dos Anjos

Resumo


Na medida em que a historiografia compreende a infância como uma construção social sobre um período da vida humana que informa as experiências concretas de ser criança na história (CUNNINGHAN, 1997), torna-se relevante estudar como, em determinados contextos, se procurou delimitar cronologicamente a sua duração e, de que maneira, diferentes instituições, ao produzirem sobre ela distintas representações (CHARTIER, 2002), disputaram para si esse tempo da vida. Assim, valendo-se da noção de lutas de representações (CHARTIER, 2002), o objetivo do artigo é identificar as representações sobre as cronologias da infância presentes em textos eclesiásticos e jurídicos em circulação no Brasil Império, evidenciando como disputavam entre si e eram postas a serviço dos interesses da Igreja e do Estado, formados, então, por três grupos distintos: os regalistas, os liberais e os ultramontanos. Utilizando-se a metodologia histórica, as fontes interrogadas são as Constituições Primeiras do Arcebispado da Bahia e o Abecedário Jurídico, de Carlos Antonio Cordeiro. As conclusões, num primeiro momento, apontam que as cronologias encontradas praticamente coincidem entre si, sendo a infância, para a Igreja e o Estado, o período da vida da criança que ia do nascimento aos doze/catorze anos (no caso de meninas/meninos). Todavia, um olhar aprofundado deixa entrever que a Igreja, por meio das cronologias que propunha, conseguia manter-se mais presente e influente na vida das famílias e das crianças, na medida em que através de uma série de subdivisões e responsabilidades, preenchia com inúmeras especificidades todo o tempo da vida da criança que procurava delimitar.


Referências


ANJOS, Juarez José Tuchinski dos. A educabilidade da criança em perspectiva histórica: permanências e contradições. In: GONÇALVES JR., Ernando Brito. (org.). Educação em perspectiva crítica: inquietudes, análises, experiências. Curitiba: Appris, 2016, p. 15-38.

ANJOS, Juarez José Tuchinski dos. Pais e filhos na Província do Paraná: uma história da educação da criança pela família (Doutorado em Educação). Programa de Pós-Graduação em Educação, Setor de Educação, Universidade Federal do Paraná. Curitiba, 2015.

ANJOS, Juarez José Tuchinski dos. Representações em disputa sobre a educação da criança pela família (Província do Paraná, 1853-1889). Educação e Pesquisa. São Paulo, v. 43, n. 1, p. 199-214, jan.-mar. 2017.

ARIÈS, Philippe. História social da criança e da família. Rio de Janeiro: Zahar, 1978.

BECCHI, Egle; SEMERARO, Angelo. Prefazione. In: Archivi d’infanzia. Per una storiografia della prima età. Milano: Nuova Itália, 2001, p. IX-XVI.

BENJAMIN, Walter. Teses sobre o conceito de História. In: Obras Escolhidas I. São Paulo: Brasiliense, 1985, p. 222-232.

BURGUIÈRE, André; LEBRUN, François. El cura, el príncipe e la família. In: Historia de la família 2: el impacto de la modernidad. Madrid: Alianza Editorial, 1988, p. 97-162.

CARVALHO, José Murilo de. A construção da ordem. Teatro das sombras. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003.

CHARTIER, Roger. A história cultural: entre práticas e representações. Rio de Janeiro: Difel, 2002.

CONSTITUIÇÕES Primeiras do Arcebispado da Bahia. São Paulo: Typographia Dois de Dezembro, 1853.

CORDEIRO, Antonio Carlos. Abecedário Jurídico. Rio de Janeiro: Laemmert, 1858.

CUNNINGHAN, Hugh. Storia dell’infanzia. Bologna: Mulino, 1997.

DONZELOT, Jacques. A polícia das famílias. Rio de Janeiro: Graal, 1980.

GONDRA, José Gonçalves. A emergência da infância. Educação em Revista. Belo Horizonte, vol. 26, n. 1, abr. 2010, p. 195-214.

GONDRA, José Gonçalves; FERREIRA, António Gomes. Idades da vida, infância e racionalidade médico higiênica em Portugal (séculos 17-19). Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos. Brasília, v. 87, n. 216, p. 119-134, mai.-ago. 2006.

HEYWOOD, Colin. Uma história da infância: Da Idade Média à época contemporânea no Ocidente. Porto Alegre: Artes Médicas, 2004.

KULHMANN JR., Moysés; FERNANDES, Rogério. Sobre a história da infância. In: FARIA FILHO, Luciano Mendes de (org.). A infância e sua educação. Belo Horizonte: Autêntica, 2004, p. 15-33.

LEBRUN, François. As Reformas: devoções comunitárias e piedade pessoal. In: CHARTIER, Roger (org.). História da vida privada 3: da Renascença ao século das Luzes. São Paulo: Companhia das Letras, 2009, p. 76-112.

MANOEL, Ivan Aparecido. O pêndulo da História. Maringá: EDUEM, 2004.

MONCORVO FILHO, Arthur. Histórico da proteção à infância no Brasil. Rio de Janeiro: Paulo Ponget, 1927.

MONTEIRO, Alex Silva. A Heresia dos Anjos: a infância na inquisição portuguesa nos séculos XVI, XVII e XVIII (Mestrado em História). Programa de Pós-Graduação em História, Universidade Federal Fluminense. Niterói, 2005.

OLIVEIRA LIMA, Manoel de. O Império Brasileiro (1822-1889). Brasília: Editora da UnB, 1986.

PANCERA, Carlo. Semânticas da infância. Perspectiva. Florianópolis, n. 22, p. 97-104, 1994.

SANTIROCCHI, Ítalo. Os ultramontanos no Brasil e o regalismo no Segundo Império (1840-1889). (Doutorado em História). Faculdade de História e Bens Culturais da Igreja, Pontifícia Universidade Gregoriana. Roma, 2010.

VARELA, Julia. Aproximación genealógica a la moderna percepción social de los niños. Revista de Educación. Madrid, n. 281, p. 155-176, 1986.




DOI: https://doi.org/10.26694/caedu.v1i3.9960

Apontamentos

  • Não há apontamentos.


ISSN 2675-1496

BASES E INDEXADORES

LATINDEX https://latindex.org/latindex/ficha?folio=29358

SUMÁRIOS https://www.sumarios.org/revista/caminhos-da-educação

CROSSREF https://www.crossref.org/ 

FLACSO https://www.flacso.org.ar/latinrev/

CNEN http://www.cnen.gov.br/centro-de-informacoes-nucleares/livre

ORCID http://www.orcid.org

ABEC Brasil https://www.abecbrasil.org.br

GOOGLE ACADÊMICO https://scholar.google.com.br/citations?hl=pt-BR&authuser=2&user=xO14s_4AAAAJ