Fragilidade das identidades
Resumo
O texto examina o tema da fragilidade das identidades em Paul Ricoeur. Nossa hipótese é que o mesmo quadro analítico utilizado no tratamento das aporias da identidade temporal, que se resolvem em termos narrativos, será aplicado no diagnóstico e no tratamento das fragilidades das identidades pessoal e coletiva. Trata-se do quadro construído com base no pressuposto de que o poder da narrativa reside na articulação dialética entre a mesmidade e a ipseidade, o que e o quem, o caráter e a promessa. A primeira tarefa consiste em saber se os desvios das variações imaginativas, que resultam da distorção ou paralisação dessa dialética de base, são os mesmos apontados nas fragilidades da memória. A segunda tarefa consiste em mostrar que as fragilidades das identidades, em especial a compulsão à repetição e a melancolia, estão caracterizadas com base na sobreposição de um desses polos ao outro. Entendemos que Ricoeur, nesse ponto, avança em relação à solução freudiana, na medida em que retoma o lado positivo da melancolia, propondo a terapia do trabalho da memória; não obstante, pretendemos dar um passo mais no sentido de complementar essa terapia pela meditação, que se orienta pela memória espacial. Por fim, examinamos a tese de que as lutas por reconhecimento das identidades deixaram de lado as reivindicações por redistribuição econômica. Concluímos que a luta por reconhecimento tem de ser limitada e corrigida naquilo que desencadeia a deposição e a morte do outro; e que, além disso, o reconhecimento pautado pela bondade e pelo dom tem de levar a uma justa distribuição econômica e aos estados de paz.
Palavras-chave
Texto completo:
PDFReferências
ABEL, Olivier; PORRÉE, Jérôme. Le vocabulaire de Paul Ricoeur. Paris: Ellipses, 2007.
AGOSTINHO. Confissões. De Magistro. São Paulo: Abril Cultural, 1980.
ARALDI, Etiane. “A melancolia e A náusea de Jean-Paul Sartre”. In: Latin-American Journal of Fundamental Psychopathology on line. São Paulo: v. VII, n. 2, 2007, pp. 96-110.
BENJAMIN, Walter. Origem do barroco alemão. São Paulo: Brasiliense, 1984.
CARRUTHERS, Mary. A técnica do pensamento. Meditação, retórica e a construção de imagens (400-1200). Campinas: Universidade Estadual de Campinas, 2008.
CARRUTHERS, Mary. The Book of Memory. A study of memory in Medieval Culture. Cambridge: Cambridge University Press, 2011.
FREUD, S. Luto e melancolia. São Paulo: Cosac Naify, 2011.
GAGNEBIN, Jeanne Marie. “Os impedimentos da memória.” In: Estudos Avançados. São Paulo: v. 34, n. 98, 2020, pp. 201-217.
GENTIL, Hélio Salles. Para uma poética da modernidade. Uma aproximação à arte do romance em Temps et récit de Paul Ricoeur. São Paulo: Loyola, 2004.
HERNAN VAZQUEZ, S. “La palabra como instancia terapéutica de la acedia en Evagrio Póntico. La palabra frente al logismós da incuria.” In: Patristica et Mediaevalia. Buenos Aires: 41,1, 2020, pp. 41-53.
HONNETH, Axel. Luta por reconhecimento – A gramática moral dos conflitos sociais (Kampf um Anerkennung, 1992). Tradução de Luis Repa. São Paulo: Editora 34, 2003.
LOUTE, A. Identité narrative et resistence: le travail de la mise en intrigue. In: Studia Phaenomenologica. Bucareste: v. 10, 2010, pp. 221-234.
RICOEUR, Paul. “Le problème du fondement de la morale”. In: Sapienza: Rivista internazionale di Filosofia e di Teologia. Bolonha: Anno XXVIII, Luglio-Settembre, 1975, pp. 313-337.
RICOEUR, Paul. A l’école de la phénoménologie. Paris: Vrin, 2004.
RICOEUR, Paul. Da metafísica à moral. Autobiografia intelectual. Lisboa: Piaget, 1997.
RICOEUR, Paul. Escritos e conferências 3. Antropologia filosófica. Textos reunidos, estabelecidos, anotados e apresentados por Johann Michel e Jérôme Porée. Tradução de Lara Christina de Malimpensa. São Paulo: Loyola, 2016.
RICOEUR, Paul. Fragile identité: respect de l´autre et identité culturelle. In: Les droits de la personne en question – Europe – Europa. Paris: FIACAT, 2000.
RICOEUR, Paul. La lutte pour la reconnaissance et l’économie du don. Paris: Unesco, 2004.
RICOEUR, Paul. La memoria, la historia, el olvido. Buenos Aires: Fondo de Cultura Económica de Argentina, 2004.
RICOEUR, Paul. Percurso do reconhecimento. São Paulo: Loyola, 2006.
RICOEUR, Paul. Soi-même comme un autre. Paris: Seuil, 1990.
RICOEUR, Paul. Temps et Récit III: le temps raconté. Paris: Seuil, 1985.
RICOEUR, Paul. Tempo e narrativa III. Campinas: Papirus, 1997.
ROSSATTO, Noeli Dutra. “O respeito ao outro na ética de Paul Ricoeur”. In: Dissertatio. Pelotas: Volume Suplementar n. 8, 2018, pp. 125-139.
SARTRE, Jean-Paul. La nausée. Paris: Gallimard, 2007.
TUGENDHAT, Ernst. Egocentricidade e mística: um estudo antropológico. São Paulo: Martins Fontes/ WMF, 2013.
YATES, Francis. El arte de la memoria (The Art of Memory, 1966). Madrid: Siruela, 2005.
CARRUTHERS, Mary. A técnica do pensamento. Meditação, retórica e a construção de imagens (400-1200). Campinas: Universidade Estadual de Campinas, 2008.
DOI: https://doi.org/10.26694/pensando.v12i26.12650
Direitos autorais 2021 Pensando - Revista de Filosofia
Esta obra está licenciada sob uma licença Creative Commons Atribuição - NãoComercial 4.0 Internacional.
INDEXADA EM/INDEXED BY:
ENDEREÇO/MAIL ADDRESS:
Universidade Federal do Piauí, Programa de Pós-Graduação em Filosofia, Centro de Ciências Humanas e Letras, Campus Min. Petrônio Portela,
CEP 64.049-550, Teresina - PI, Fone: (86) 3237 1134 E-mail: revista.pensando@gmail.com
OUTROS LINKS:
ISSN 2178-843X